Já eram 04h30min PM, horário de Washington D.C, e a coletiva de imprensa havia sido marcada para 04h45min. Sophia tinha 15 minutos para chegar lá, e nesse período dentro da limusine, já havia recebido um telefonema de seu chefe, lhe informado que o câmera já estava lá. A moça não se continha de curiosidade.
Qual o assunto dessa coletiva? Ela se perguntava repetidas vezes, chegando a pensar até em uma possível captura de sua maior realização profissional. Genka!
Foi ao escrever um artigo sobre um assassino serial, que fez dezenas de vitimas em duas semanas, durante sua estadia em Nova Iorque, que Sophia Lopes ficou nacionalmente conhecida. As lembranças que ela tinha daquilo tudo ainda viviam fortes em sua mente.
Era outubro de 2001, quatro semanas depois dos atentados do World Trade Center. Sophia trabalhava em um jornal impresso não muito importante em Nova Iorque, mas mesmo assim, naquelas quatro semanas depois do atentado, seu ambiente tranquilo de trabalho ficou maluco, pessoas correndo de um lado para o outro com folhas, arquivos, fotos. Ela era apenas uma colunista sem importância, suas colunas costumavam ficar próximas às áreas de charges para que as pessoas ao menos passassem por elas, e às vezes sequer eram publicadas. Mas chegou ao conhecimento de seu chefe, que uma sequencia de assassinatos estava acontecendo havia uma semana, todos com os mesmos padrões: olhos furados, e símbolo entalhado na testa. Sophia viu naquilo uma chance de crescer dentro do jornal, e ganhar páginas mais importantes. Foi aí que decidiu ter uma reunião com seu chefe.
- Senhor Paul, eu ouvi dizer que tem um monte de coisas acontecendo nessa última semana! – Ela disse, sentada de frente para Paul Black, um homem já de idade, cabelos brancos, e pele enrugada.
- Que tipo de coisas, Sophia? – Paul perguntou, com uma voz rouca e falha.
- Assassinatos, dezenas deles, em apenas uma semana. Todos com os mesmo padrões.
- Ah sim, é verdade, - ele falou olhando para um pacote. Estava escrito nele: “Faça bom proveito! Fidelidade, Bravura, e Integridade” – mas não é algo para seu nível jornalístico.
- Essas informações foram cedidas pelo FBI não é? – Sophia perguntou intrigada.
O velho Paul parou por um instante, olhando para ela, como uma cara de peixe morto, e então falou:
- Esta reunião acabou Sophia!
- Não, não, não, você tem que me dar uma chance, eu posso fazer uma manchete incrível sobre esse assassino! – Sophia disse, animada.
- Temos colunistas melhores aqui, e além do mais – ele levantou o envelope e sacudiu. -, isso aqui vale primeira página.
Sophia saiu da sala de Paul, aparentemente abalada, ela havia perdido ali, a chance de sua vida, a chance de crescer profissionalmente. Mas ela não se contentou com isso, e foi até o departamento da policia estadual.
A policia de Nova Iorque era bem remunerada, e bem treinada, quase a nível federal, estava sempre pronta pra seguir ordens, mas eles deveriam ter uma falha, Sophia só precisava encontrá-la.
Naquela noite, Sophia foi ao departamento, e encontrou um policial gordo e nada atraente, seu nome era Walter. Sophia era linda, e sabia que poderia usar aquilo para saber alguns detalhes sobre os assassinatos, ela estava disposta a começar uma investigação individual.
Walter e Sophia foram até uma lanchonete, onde pediram uma porção de rosquinhas.
- Walter, é verdade que estão acontecendo assassinatos em série aqui em Nova Iorque? – Sophia perguntou, pegando uma rosquinha.
- Onde ouviu isso garota? – Ele riu.
Sophia repetiu a pergunta, quebrando a rosquinha ao meio, levando uma de suas partes à boca, e lambendo-a, de forma sensual.
- Veja bem Sophi, essas coisas nem estão sobre nossa jurisdição, os Federais estão cuidando disso! – Ele disse, ao se aproximar mais dela.
- É um Serial Killer? – Ela perguntou, mordendo a rosquinha.
- Ou uma seita da década de 60 que voltou. – O policial respondeu, quase babando.
- Você sabe onde aconteceram os assassinatos? – Sophia perguntou mais séria.
- Claro!
- Onde foram?
- Não vou te contar! – ele falou se ajeitando na cadeira.
- Ah, por quê? – Ela perguntou, fazendo uma carinha de cão abandonado.
- Isso é caso federal, jovem, não é coisa pra civis. E você ainda não me disse como ficou sabendo!
- Boatos correm rápido!
- Sim, mas isso não é apenas um boato! – Ele se encostou novamente na cadeira. – Isso é um caso federal, e eles sabem muito bem encobrir algo do grande publico quando querem.
Aquilo não importava no momento, Sophia precisava descobrir onde os assassinatos aconteceram para poder investigar por conta própria. Ela precisava mudar o rumo da conversa.
- Walter, vamos para outro lugar? – Ela perguntou, se inclinando sobre a mesa, deixando a mostra seu exuberante decote.
- C-Como... Pra onde?
- Ah... – Ela coloca um dos dedos sobre o peito do policial, e começa a fazer um movimento circular – Nós entramos na sua viatura... E vamos até um lugar escondido e discreto.
Walter não pensou duas vezes, pagou a conta da lanchonete, e levou Sophia até a viatura.
Ele dirigiu por alguns minutos, até chegar a um terreno baldio, nenhuma alma viva ao redor. O policial fechou as janelas, ligou o radio, e começou a desabotoar sua farda.
- Espere um pouco! – Sophia pediu.
Walter parou, e começou a encará-la.
- Você teve a ideia, Sophi. – Ele falou.
- Por favor... Eu não consigo me conter de curiosidade. Me fala sobre os assassinatos! – Ela implorou.
Walter, no alge da excitação, não se conteu, e abriu a boca.
- Tudo que a policia sabe, é que, os assassinatos ocorriam em sequencia, e as vítimas costumavam ter alguma ligação. Os locais das mortes não seguem um padrão, parecem ser aleatórios. Por exemplo, um Beco na Wallstreet. Mas todos seguiam o mesmo padrão...
-... Olhos perfurados, e uma pirâmide entalhada nas testas. – Ela completou.
- Exatamente... Dizem que uma seita de uns 40 anos atrás perfurava os olhos de suas vitimas, ou sacrifícios, e tentava entalhar em suas testas escrituras em latim. Assim o caso se confunde, não sabe se é um serial killer, ou essa seita que voltou.
- Mas as marcas na testa são diferentes! – Sophia disse.
- Sim, mas pode ser uma derivação daquela seita, não se sabe!
Sophia agora já sabia tudo que precisava saber. Incluindo um dos lugares. Agora o único problema era ir embora, e deixar Walter na mão.
Agora tem que ser uma saída de mestre... Mas como?! Sophia colocou uma das mãos sobre a coxa de Walter, que mais parecia um lobo prestes a atacar.
- Walter, eu... Eu perdi toda a vontade de transar com essa conversa! – Sophia disse, parecendo descontente.
- Como assim, Sophi? – Ele perguntou, segurando-a pelo braço – Você que teve a ideia. Você que pediu pra sairmos!
- Lamento Walter! – Ela disse.
Walter não pareceu nada contente com aquilo. Apertando um dos botões no painel do carro, fez com que as travas das portas as fechassem. Ele parecia nervoso, e furioso.
Sophia havia se colocado em uma fria.
- Walter, o que você vai fazer? – Ela pergunta aparentemente assustada.
- O que nós íamos fazer, até você mudar de ideia! – Ele diz, com um riso pervertido na face.
Sophia então se desespera. Começa a grita e a chutar dentro da viatura. Walter, por ser bem maior e mais forte que ela, conseguiu conte-la, jogando-a para o banco de trás da viatura.
Ele chegava a babar de excitação.
Foi nesse momento que o vidro da janela no lado do motorista explodiu.
Nisso, a limusine que estava a levando para a coletiva do FBI passou dentro de um buraco, e Sophia acordou de seus devaneios.
♦♦♦♦♦
O palco já estava montado, um tapete vermelho cobria o chão, e na parede aos fundos, uma enorme bandeira dos Estados Unidos com o símbolo do FBI e dentro escrito, “Fidelidade, Bravura e Integridade”.
Ferdinand olhava para o relógio, apreensivo.
5 minutos! Ele pensou.
Ainda precisava de alguém para subir ao palanque com ele. E este alguém não estava nem um pouco feliz com toda aquela história.
Ainda preciso falar com Cliverland! ♦♦♦♦♦
Cliverland e Simon estavam trancados em sua sala. Cliverland com o telefone pendurado na orelha, falando com um homem que se intitulava Daniel Moscou.
Simon se lembrava vagamente daquele nome, havia lido em algum jornal sobre as falcatruas de Daniel Moscou. No jornal, lembrou ele, dizia que o senhor Moscou havia recebido dinheiro de um politico de Washington para que ele expôs-se outro, em quase todos os programas de sua emissora, e ainda o difamasse em seu jornal impresso. Mas depois de um tempo, todas as queixas foram retiradas por falta de provas.
Agora, o que os dois estavam se perguntando era, qual o real motivo de Rachel ligar para Moscou, um dos chefões de uma das maiores emissoras de televisão do país, justo no dia, da coletiva de imprensa que desmoronaria o FBI. Será que ela realmente era contra tudo aquilo?
- Pois bem, senhor Daniel Moscou. – Cliverland disse, sentando-se e pondo-se a pensar em algo plausível a dizer. Afinal, aquilo não deixava de ser uma investigação – Como eu disse a sua secretaria, aqui é LiWire Cliverland, e eu sou agente do FBI!
Cliverland está tentando intimidá-lo, bem esperto de sua parte! Simon pensou, sorrindo de leve.
- Ah, já ouvi falar muito de você, senhor Cliverland! – Daniel respondeu do outro lado – Meu jornal publicou uma matéria sobre a má aceitação do seu livro entre pessoas mais experientes na área da psicologia.
Lembro-me bem disso! Cliverland pensou, franzindo a testa. – Mas não é disso que quero falar com você. É sobre uma ligação, que você recebeu minutos atrás.
- Não sei do que está falando, senhor Cliverland!
- Claro que sabe! Não é todo dia que você recebe telefonemas de pessoas como Rachel Musshell, subdiretora do FBI!
- Na verdade, já recebi ligações de pessoas bem mais importantes. – Daniel disse, soltando uma gargalhada audível até para Simon, que estava distante do telefone.
- No momento... – Cliverland parou, e pensou –... Só me interessa saber o assunto da ligação de Rachel!
♦♦♦♦♦
No escritório de Daniel Moscou, no alto do prédio da CCW TV em Nova Iorque, aquele homem robusto, careca, de roupa engomada, rodava em sua poltrona estofada, e coberta com pele de leopardo, enquanto falava com LiWire Cliverland.
Mesmo estando na linha com um dos mais conceituado agentes federais, além de escritor de renome, um sarcástico sorriso nunca saía da face de Moscou.
“Só me interessa saber o assunto da ligação de Rachel!”, Daniel ouviu Cliverland dizer do outro lado da linha.
Sem hesitar, o audacioso diretor da CCW TV, respondeu Cliverland, de forma bem direta.
- A coletiva de imprensa marcada por Ferdinand Walker!
A linha se fez muda por um instante.
- C-como ela se mostrou diante isso? – Cliverland perguntou.
- Passiva! – Moscou respondeu novamente de forma direta.
- Puxa vida Daniel, você não está ajudando! – Cliverland esbravejou. – A integridade, a honra que resta ao FBI está em jogo!
- Ah, isso não é de meu interesse, Cliverland. Sou apenas o diretor de uma emissora de TV. – Moscou disse, virando-se para um computador em cima de sua mesa. - Lamento, mas o telefonema de Rachel foi única e exclusivamente para tratar dessa coletiva.
Cliverland resmungou um pouco mais, e então finalmente desligou o telefone.
Daniel colocou o seu no gancho, e entrelaçou seus dedos em frente à face, olhando para o computador, quando alguém passa um envelope por baixo de sua porta.
Eu esperava um e-mail. Ele pensou, levantando-se e indo pegar o envelope.
Naquele envelope pardo, muito bem selado, estava carimbado com letras bem grandes e legíveis “Confidencial”.
- Cliverland, Cliverland – Moscou disse, pegando o envelope e abrindo – Nós da TV devemos saber mentir, assim como os políticos.
♦♦♦♦♦
Cliverland aparentemente estressado andava de um lado para o outro em sua sala. Simon, sem entender, se levanta e vai até ele perguntar o que Daniel falou.
- E então, o que ele disse?
- Nada! Ele mentiu! – Cliverland disse, se virando bruscamente para Simon, que saltou para trás com o susto.
- O que ele disse? – Simon perguntou novamente.
- Ele disse que Rachel ligou para falar sobre a coletiva de imprensa.
- E porque você acha que é mentira?
- Filho, tenho muito tempo de agente especial, sei quando uma pessoa mente!
- Então nunca descobriremos qual o real assunto da ligação de Rachel.
- Não agora. Talvez, com uma investigação mais a fundo.
Nesse momento a porta da sala de Cliverland se abre, e Ferdinand entra, apressadamente.
- Simon, preciso de cinco minutinhos a sós com o Clivi, pode nos dar licença?
Simon olhou para Cliverland, que acenou com a cabeça positivamente, e então saiu.