Um homem vestindo um sobretudo acabara de descer de um ônibus na rodoviária estadual de Nova Iorque. Nada de tão esplendoroso ou grandioso se via nele, exceto o fato de que ele fosse de uma beleza estupenda.
Seus cabelos ruivos longos na altura dos ombros esvoaçavam por baixo do chapéu borsalino cinza, e ele tinha olhos de um azul muito profundo e belo. Por baixo do sobretudo marrom com dezenas de bolsos, aquele homem vestia uma camisa preta básica, e calça jeans, além de calçar um AllStar preto meio desbotado. Aparentemente, uma pessoa comum. Aparentemente!
Ele caminhou até um homem já de cabelos grisalhos que saía de uma cabine telefônica, e sorriu:
- Se uma criança faz bagunça em um cômodo da casa, é prudente que ela não volte àquele lugar tão cedo, certo?! – Perguntou ele, encarando o homem, que não sabia como se portar diante da pergunta.
- Desculpe senhor. Mas não entendi o que quis dizer com isso. – O homem falou sorrindo sem graça, e se afastando do ruivo que acabara de chegar.
- Claro que não. – sorriu. – Me chamo o
Michael Leroy. Nos esbarramos por aí.
E não! A criança não voltaria ao cômodo!♦♦♦♦♦
O agente Cliverland já havia acabado sua palestra com o pessoal da agência. Colocou os papeis de volta na pasta, desligou o projetor que iluminava um telão atrás dele e se pôs a caminhar em direção à saída. Ao passar por ela, ouviu passos largos o seguir, e uma voz masculina jovial e forte o chamar.
- Mr. Cliverland!
Cliverland se virou para ver quem o seguia.
Era um jovem agente que nunca havia visto por lá.
De estatura baixa, cabelos loiros lisos, cortados em franja quase diagonal, muito bem penteado e vestindo a mesma roupa que todos os agentes ali costumavam usar. O jovem se aproximou e apertou a mão de Cliverland com entusiasmo.
- Olá Mr. Cliverland. – O jovem sorriu - Me chamo
Simon Rushing!
- Prazer Simon! O que você deseja? – Perguntou, virando-se e voltando a andar em direção a sua sala.
- Eu me interessei pelo caso “Genka”, e queria me aprofundar mais no assunto. – Simon respondeu.
- Então me siga. Conversaremos melhor no meu escritório.
Cliverland e Simon andaram pelos corredores da agência. As paredes brancas com muitas janelas mostravam que ali era uma construção nem um pouco discreta, as cerâmicas acinzentadas no chão, subiam até dois palmos na parede, e várias lâmpadas ficavam espalhadas no teto. Aqueles corredores eram os corredores da sede principal do “
Federal Bureau of Investigation”, mais conhecido como
FBI, localizado no edifício
J. Edgar Hoover, Washington DC.
Os dois agentes passaram por várias salas bagunçadas, cheias de gavetas reviradas, que podiam contar a história dos homens mais procurados a América, do começo ao fim.
Viraram à esquerda e seguiram por outro corredor.
- Esta é a sala onde os documentos relacionados aos 10 homens mais procurados do país estão guardados. – Cliverland disse, apontando para uma sala escura. Mas mesmo do lado de fora passando pelo corredor, era possível ver a silhueta de um homem sentado atrás de uma mesa. – Olá agente Morrison. – Cliverland acenou.
Simon continuou seguindo o agente Cliverland pelos corredores da agência. Passaram por salas que continham segredos de espionagem, e a ficha dos homens mais perigosos do país.
Chegaram finalmente ao escritório de Cliverland.
Era uma sala pequena, em todas as paredes se viam armários abarrotados de pastas e envelopes pardos. Na parede atrás da mesa de LiWire havia um imenso mapa do país, cheio de marcadores azuis e vermelhos ligados por linhas das mesmas cores. Cada marcador ficava localizado sobre uma cidade, ou região, sob os marcadores haviam também papéis com datas. Simon apertou os olhos para entender o emaranhado de linhas azuis e vermelhas se cruzando, quando o som da porta batendo ao se fechar meio que, tirou-o de um transe.
- Conseguiu entender? – Cliverland perguntou, ficando ao lado de Simon, olhando para o mapa.
- Ah, não senhor!
- Os marcadores azuis, demarcam as regiões que ocorreram assassinatos brutais em que se suspeita de William. Antes é claro, de ele começar a assinar suas mortes. As linhas azuis ligam cada marcador pelas datas contidas nestes papéis – Disse Cliverland, se aproximando do mapa e apontando para lugares como: Seattle, Cleveland e Detroit. – Já os marcadores vermelhos - apontou para um, sobre Nova Iorque -, mostram por onde ele se “divertiu”, após começar a assinar as mortes. Usam os mesmos princípios que os azuis, tanto as linhas, quanto as datações.
As linhas vermelhas eram rápidas e próximas. Havia lugares no mapa, que se tinha até cinco marcadores vermelhos no mesmo estado, e as datas nos papéis tinham apenas semanas de diferença.
Já as azuis eram vagas e lentas. Algumas que eram de assassinatos que ocorreram em um período de tempo relativamente curto cruzavam todo o mapa, e tinham meses de diferença.
- Quer dizer então que, depois do “Genka” começar a assinar as mortes, ele se tornou compulsivo? – Perguntou Simon, abismado com a quantidade de marcadores vermelhos.
- Não diria compulsivo... Diria, despreocupado.
- Como assim?
- Veja bem. – Cliverland abriu uma das gavetas e retirou um envelope jogando-o sobre a mesa. – William antes matava de forma sorrateira e preocupada. Mesmo alguns assassinatos sendo brutais, não se conseguiam as provas para prendê-lo. William detestava se mudar, por isso evitava fazer suas barbaridades com frequência, e sempre que as fazia ele partia para um lugar distante.
- Mas porque depois de começar a assinar ele ficou mais desleixado? – Perguntou Simon, sem entender.
- Ele não ficou mais desleixado, ele ficou mais cauteloso. Quando começou a assinar as mortes ele já era um adulto autônomo. Viaja sem problemas, conseguia falsificações sem problemas. Enganava a inteligência americana com uma facilidade monstruosa. Você não pode esquecer que William não é apenas um Serial Killer, ele é um gênio também.
Cliverland abriu o envelope que havia jogado sobre a mesa. Dentro dele havia várias fotografias de pessoas mortas. Eram assassinatos comuns, pessoas esfaqueadas, baleadas, eletrocutadas e queimadas. Mas um chamou a atenção de Simon. Na foto tirada de dentro de um consultório odontológico, um dentista estava caído, envolto por uma poça de sangue. Seus olhos haviam sido perfurados por um objeto semelhante a uma tesoura, e na testa uma tentativa falha de entalhar algo.
A foto era de agosto de 1999.
- Que horror! – Exclamou Simon, desviando o olhar da foto em cima da mesa. Aparentemente enjoado.
- Sim... Quer café? – Cliverland serviu uma xícara de café expresso para Simon, e em seguida para si mesmo.
Eu não queria, mas já que serviu. Simon pensou, pegando a xícara e olhando para o café, meio inseguro.
- Obrigado, senhor, parece que leu meus pensamentos. – Ele mentiu
- É eu li sim. – disse, lançando um risinho sarcástico. – Então, Simon Rushing, você é novo na agência, não é?
- Como sabia?
- Seu jeito! E também, você é jovem demais. Fico até surpreso em vê-lo por aqui.
- Sim, eu estou a pouco menos de dois meses aqui na agência. Fiz uma espécie de teste. Aparentemente eles viram algum potencial em mim. Depois que fui aprovado com nota máxima fui para o Quantico, onde fiz um treinamento intensivo de 21 semanas para me tornar agente especial.
A academia localizada no Quantico - Virginia é sede dos laboratórios de comunicação e informática do FBI, e também é para lá que novos agentes são enviados e treinados como agentes especiais. Lá lhes é exigido um treinamento de 21 semanas. A academia do Quantico foi inaugurada em 1972 numa extensa área verde. Esta também serve como local de aulas para agências de policias locais e estaduais, que são convidadas a participar dos centros de treinamento.
As unidades do FBI que ficam em Quantico são: Field and Police Training Unit, Firearms Training Unit, Forensic Science Research and Training Center, Technology Services Unit (TSU), Investigative Training Unit, Law Enforcement Communication Unit, Leadership and Management Science Units (LSMU), Physical Training Unit, New Agents' Training Unit (NATU), entre outras.
Cliverland percebeu ali naquele momento o incrível potencial de Simon.
Teste? Nunca ouvi falar desse método de recrutamento. Cliverland pensou, olhando para Simon e dando um breve gole em seu café.
- Então Simon, você foi para Quantico. – Disse, se escorando na mesa. – Muitos daqui vieram de Quantico, mas nenhum de nós fez um teste.
- O agente que me recrutou disse que eu tinha aptidão. E também, o raciocínio lógico e inteligência que está faltando nos agentes atuais do FBI.
Cliverland sorriu.
- Então eles lhe chamaram apenas para ser um peão!
- Como assim?
- Veja bem. O FBI vem passando por uma pequena crise interna que está sendo escondida até dos olhos do presidente.
Simon arregalou os olhos.
- Mas porque eu seria um peão?
- Eu admito que a ineficiência dos agentes do FBI seja grotesca. Centenas de casos arquivados, agentes plantando provas em cenas de crime. A gestão do atual diretor Ferdinand Walker está sendo vergonhosa. Ao que parece, estão recrutando jovens gênios, para poder cobrir a velha guarda.
Simon não sabia o que dizer. Estava na agência a pouco mais de um mês e já lhe jogam na cara que ele não passa de um peão. Ficou aparente frustrado.
- Mr. Cliverland, como o diretor está escondendo essa crise... Do presidente?
- Disso eu não sei, mas o Diretor tem seus contatos no NRO, CIA e em outras agências de importância, que ficariam descontentes em vê-lo sair do cargo de diretor do FBI.
- Mas o que pretendem recrutando pessoas como eu? – Simon preferiu não usar o termo gênio. Era um rapaz bastante modesto.
- Veja bem, Simon. O FBI teve cortes de orçamento. Com isso, muitos agentes foram demitidos, e muitas filiais fechadas por todo o país. Fora isso. Casos como o de William, que vinham tendo gastos desnecessários, sem chegar a lugar algum, foram encerrados. Estranhamente, este ano, pouco mais de um mês de você ser transferido para cá, o diretor me ordenou que reabrisse o caso... Tem algo errado.
Simon se levantou e bateu as duas mãos sobre a mesa.
- Senhor, me coloque na equipe. Não quero ser apenas um peão em um jogo sujo, quero poder ajudar. Quero pegar o Genka.
- Simon...
O silêncio tomou conta da sala após Cliverland dizer o nome do rapaz.
Ele pegou seu café que já havia esfriado e deu um gole bastante demorado.
-... Bem vindo à equipe. – Cliverland completou com um suspiro.
Simon sentou-se aliviado, mas gritava de alegria por dentro.
- Prometo não desaponta-lo, senhor.
- E não vai... É praticamente impossível encontrar William com uma equipe tão pequena. Não sei o que o diretor pretende, mas você está incluso no pacote do “caso reaberto” então devo aproveita-lo.
A conversa se prolongou, Simon contou algumas coisas de sua longa estadia na academia em Quantico, e Cliverland continuou falando sobre sua teoria conspiratória.
Arquivos sobre o caso de William passava de um lado para o outro, eles discutiam, a hora passava depressa, e quando perceberam já era noite.
- Já vou Mr. Cliverland. – Disse Simon, levantando-se e indo em direção à porta.
- Até amanhã Simon. Bem vindo a “equipe” – Cliverland acenou – E não se esqueça. "
Fidelidade, Bravura e Integridade”. Muitas pessoas tem se esquecido desse lema por aqui.
Bem, eu peço que na medida que a história avançar vocês pensem algumas teorias e comentem. Essa é a graça de uma fic policial. E eu quero ver se vocês vão chegar perto de entender a verdadeira trama q