A coletiva começou sem atrasos. Ferdinand já estava de pé em frente ao microfone e Cliverland sentado ao seu lado, passando as folhas uma por uma, lendo seu script.
Ferdinand olhava para todos naquele lugar de uma forma que subjugava a todos. E as dezenas de jornalistas sentados olhavam de volta com um ar de curiosidade.
Não levou muito tempo e Ferdinand começou a falar:
- Há 73 anos, o FBI vem protegendo os cidadãos dos Estados Unidos de todos os tipos de problema. Desde traficantes e mafiosos a assassinos em série, de políticos corruptos a ladrões de banco. Essa agência já perdeu muitos homens que deram a vida por este país e as pessoas que nele vivem. Basicamente, morreram por seus semelhantes, que nem sempre deram valor ao sacrifício que os homens dessa agência fizeram. – Ferdinand então fez uma breve pausa, correndo os olhos por todos naquele lugar, e depois fitou Cliverland e piscou. – Monstros como William, ou Genka, como é popularmente conhecido, deram muito trabalho para nossos agentes, e muitos gastos para a agência...
Um jornalista então se levantou e disse:
- Mas este caso não chegou a lugar algum. Vocês o encerraram!
Sophia que até então ouvia tudo atentamente, abaixou a cabeça e passou a encarar o chão. Diferentes dela, todos os jornalistas encararam Ferdinand, aguardando sua resposta. Ele logo se defendeu:
- Sim, o caso foi fechado, por ter gastos excessivos e não chegar a lugar algum... Mas não vamos entrar nesse assunto agora. O que eu realmente vim falar nessa coletiva foi o seguinte...
Um ar de apreensão era visto nos olhos de todos lá. Desde funcionários da agência até os membros da imprensa. Ferdinand então prosseguiu:
-... O real motivo dessa coletiva é para comunicar ao povo americano o fechamento oficial de 50% das filiais do FBI
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A TV estava ligada dentro de um trailer em algum lugar de Nova Iorque, aos pés de um fogão o belo Michael preparava um ensopado com alguns legumes encontrados na geladeira e carne de coelho.
- Adoro cozinhar, é uma pena que no meu meio esse hobbie não seja bem visto. – Ele dizia enquanto picava uma cenoura.
Então um alarde começa na TV, que estava ligada na CCW TV – Um dos canais que estavam transmitindo à coletiva. Jornalistas gritando apontando microfones em direção ao palanque em que Ferdinand e Cliverland estavam. Em meio à gritaria era possível ouvir algumas perguntas como: “
Senhor Ferdinand, por que o senhor decidiu fechar metade das filiais do FBI nos Estados Unidos?” e também “
Essa medida é provisória ou precede algo maior?”, e em cima do palanque Ferdinand mais perdido do que cego em tiroteio, tentando acalmar os ares naquele lugar, para então poder tentar explicar.
Michael tirou a panela do fogo, despejou o ensopado em um prato pegou uma colher e foi para frente da TV com um enorme sorriso estampado no rosto.
- Então, como o senhor vai explicar isso, senhor Ferdinand? – Michael perguntava olhando para a TV, levando uma colher do ensopado à boca.
Ouvem-se então gemidos abafados no sofá ao lado.
- Ah claro, estava me esquecendo de você... – Michael disse olhando para um homem de meia idade amordaçado no sofá. – Assim que eu terminar com meu ensopado nós brincaremos. – Ele disse sorrindo.
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Os gritos dos repórteres sessaram por um instante na coletiva, as perguntas se encerram e todos os olharem se voltaram para a escada que levava para cima do palanque. Era John Noth quem entrava no palco agora.
Ele encarou Ferdinand furioso e tomou o microfone de sua mão:
- Senhores repórteres e jornalistas. Peço a compreensão de todos aqui. Claro que isto que o nosso excelentíssimo senhor Ferdinand Walker disse agora não passa de um equivoco... – John disse se virando para Ferdinand, que encarava o chão. -... Ele com certeza pensará melhor no que disse e voltará atrás. Não é, Ferdinand?
Cliverland que até então não havia participado de nada, fez como todos naquele lugar e começou a olhar para Ferdinand, que lentamente pegava de volta o microfone.
- Na verdade não, John! – Ferdinand disse sorrindo para John. Logo voltou a olhar para sua plateia. - O espanto de vocês é mais do que compreensivo. Mas vejam bem, há mais de dois meses estamos trabalhando com pessoal reduzido. 60% dos homens do FBI foram demitidos em todo o país. Estávamos com grandes filiais abertas sem pessoal para operar nelas, então decidi fechá-las. Já não temos mais verbas para trabalhar a 100% como antes, melhor reduzir gastos até essa crise passar.
Um repórter então se levanta e pergunta:
- Essas são as reais proporções da crise do FBI?
- A coisa toda é bem maior que isso, filho. – Ferdinand respondeu com naturalidade.
Cochichos entre a imprensa começam a ecoar por todo lado e então a gritaria logo recomeça. Até mesmo Simon, que estava por fora de tudo, xingava Ferdinand mentalmente e se perguntava: “
O que Cliverland está fazendo lá em cima com ele?!”.
John Noth olhou Ferdinand nos olhos empurrou o dedo contra o peito dele e disse:
- Saiba que eu não vou impedi-lo Ferdinand, essa sua loucura deve ser passageira. Mas é claro que o
Procurador geral de justiça e o
Presidente não ficarão nada felizes com essa sua decisão.
- Logo eles mudarão de ideia, John. – Ferdinand falou esboçando um sorriso confiante.
John Noth então desceu do palanque e entrou em um carro preto, sem dar atenção aos repórteres que o seguiam.
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De sua sala Rachel ria sem parar assistindo ao aparente fiasco que era a coletiva de Ferdinand.
- Está sendo pior do que imaginava que fosse ser.