Capítulo Um - Vida à dois.
Ele fitava seus trêmulos olhos, agoniados devido ao fato de tanta miséria naquela época. Tudo que testemunhavam era carnificina, dia após dia. Nada podia mudar isso.
- Estás com fome, chibi-chan? - perguntou-lhe Kenshin, o qual havia apelidado-a a muito tempo de chibi, devido á sua estatura baixa.
- Não sei do que adianta perguntar-me, já que estamos adentro desse vasto deserto há horas, e tudo que avistamos são meros cactos. Onde pretende arranjar-me comida?
- Não precisa ser tão grosseira, eu só estava tentando ser gentil, afinal de contas, você mudou sua personalidade, desde que Daisuke...
- Por favor, não mencione o nome dele. Não quero reaver minhas antigas memórias. Vamos apenas seguir em frente, terminar de uma vez nossa jornada, antes que nós acabemos mortos de fome e sede.
Kenshin olhou-a. Ele a admirava, porque ela sempre segurou-se quanto a seus sentimentos. Sempre manteve-se forte. Isso é o que a fortalecia para seguir em frente, mesmo diante dos mais temíveis obstáculos.
- Não se preocupe, jovem Aiko, nós iremos encontrar guerreiros suficientemente fortes em algum reino próximo, e voltaremos para cumprir nossa vingança. Aquele desgraçado não perde por esperar. - Kenshin, então, debruçou um de suas mãos pálidas e flácidas sobre o ombro de Aiko, deferindo um tom de tranquilidade em seu corpo.
Repentinamente, a areia começou a mover-se mais bruscamente para a esquerda, fazendo com que os grãos proporcionassem uma pequena dose de dor ao corpo de Aiko e Kenshin.
Kenshin, preocupado, retirou sua luva para que sentisse o vento que estaria causando tal efeito, porém não havia nenhum tipo de ventania. Aiko fitou-o por alguns instantes, logo percebendo que ele havia redirecionado seu olhar para ela. Como eles convivam há muito tempo juntos, ela entendera que, aquilo era um sinal para recuar. Ele então, posicionou-se para batalha, preparando-se para qualquer tipo de ataque.
Aiko observava-o, um tanto assutada. Antes que ela pudesse piscar os olhos, três inimigos surgiram em frente ao lutador.
- Muito bem, passem seus suprimentos, imediatamente, assim nem você, nem sua vadia sairão machucados. - ordenou um dos assaltantes, ali em frente. - Peço que façam-no sem demora, ou iremos providenciar um ataque.
- Huh? Vocês querem algo que não temos, e que se tivessemos, jamais concederíamos. Peço que deixem esse local imediatamente, ou irei cavar suas covas nesse deserto infernal.
- Como quiser Ojii-san (velhote), iremos arrancar suas vidas, por vocês não possuírem aquilo que queremos.
- Venha, se puder.
Os criminosos, mediante às provocações de Kenshin, enfureceram-se, desebainhando assim, suas katanas, avançando contra o inimigo. Quando ergueram suas mãos para atingi-lo, Kenshin repetinamente sumiu de seu campo de visão. Como um passe de mágica, os criminosos começaram a sangrar em vários lugares do corpo, caindo sem vida no chão árido. Kenshin já podia ser visto, por trás dos criminosos.
- Esse tipo de marginal é o meu favorito. Eles não concedem-me nenhum tipo de trabalho. Sequer preciso usar minha real força com seres assim. Venha chibi-chan, vamos prosseguir com nossa viagem. Esses assaltantes devem ter vindo de algum reino próximo, já que sem suprimentos eles chegaram até aqui. Mesmo que eles já estivessem quase mortos, que inclusive foi o fato que os fez assaltarem-nos, eles chegaram. Como eu e você temos uma preparação melhor que a deles, acho que chegaremos lá sem problemas, assim podendo ficar em uma hospedaria, e recarregar nossos suprimentos.
- Se por acaso estiveres errado, e nós morrermos até lá, irei arrebentar-lhe, mesmo pós-morte.
- Você continua assutadora como sempre - disse, seguindo em frente.
O árduo suor começava a tomar conta do corpo dos andarilhos. Seus corpos começavam a entrar em tamanha exaustidão, que jamais haviam sentido, nem mesmo após grandes batalhas que haviam enfrentado anteriormente. Aiko sentia que estava perto da morte. Os dois olharam-se, assustados, pois ainda não conseguiam havistar o suposto reino de onde os assaltantes haviam originado-se. Aiko não podia morrer, ela ainda tinha uma ambição a realizar. Era seu dever, honrar o nome de Daisuke, após as atrocidades que foram deferidas à ele. Finalmente, após mais dezoito minutos de caminhada, eles puderam avistar uma vasta paisagem de um castelo, o qual, aparentemente, dava um significado ainda mais superior, à palavra imensidão, devido á seu tamanho quase anormal. Seus olhares fixaram-se no castelo, fazendo com que, mesmo quase mortos, eles prosseguissem, sem hesitar.
- Estamos quase lá chibi-chan. Não se preocupe, não vou deixá-la morrer em um lugar como esse. Esse não é meu jeito.
- Não há necessidade de tu proteger-me. Eu sei cuidar-me excelentemente bem, Kenshin-sensei. - respondeu.
Kenshin olhava-a, pensando que, devido a todas as experiencias que Aiko havia vivido, ela havia mudado. De uma relés criança, ainda descobrindo as verdades sobre o mundo, ela havia tornado-se alguém com imenso conhecimento, porém em preço a tal fato, ela tampouco tornou-se fria e destemida. A personalidade de um humano, pode ser facilmente afetada com a guerra, foi o que Kenshin disse, tentando explicar a mudança de Aiko. A verdade era que, nada podia explicar aquele derradeiro acontecimento, o que dá ainda mais razão ao ditado: "O coração do homem, é terra onde nenhum ser pisa".
Após acrescentados oito minutos à sua jornada até o reino mais próximo, eles observaram o grande castelo, ao lado da entrada para um vasto e extenso vilarejo, cheio de crianças, jovens, e mulheres.
- Finalmente hein? Estou exausto. Vamos buscar algo para suprir nossa fome, e depois olhamos as redondezas, certo Chibi-chan?
- Você devia parar de chamar-me dessa forma, Kenshin-sensei. Isso deixa-me irritada.
- Ora, ora. Uma criança como você, irritar-se com tanta facilidade. - ele sorriu, na tentativa de fazê-la acompanhá-lo, de fazê-la rir novamente. - Vamos logo, preciso comer algo, ou estarei morto muito em breve.
- Tch. Como quiser, Kenshin-sensei. Após alimentarmo-nos, vamos comprar suprimentos, para prosseguir nossa viagem.
- Como desejar chibi-chan.
Eles direcionaram-se à hospedaria mais próxima, encontrando então, uma jovem madame, que os atendia com toda calma e placidez. Ela sorriu:
- Muito bem, senhores. Gostariam que eu concedesse um quarto para Vossa Senhoria?
- Sim, seria de muito bom grado de sua parte. Peço que o faça, por favor.
Ela pegou uma grande quantidade de folhas, as quais estavam encadernadas. Ela abriu-as, como se fossem um antigo livro, sendo que suas folhas já estavam, algumas rasgadas, e outras simplesmente envelhicidas. Quando deparou-se com determinada escritura dentre as palavras ali registradas, ela concretizou um olhar surpreso, voltando-o para Kenshin e Aiko.
- Há algo errado, madame? - perguntou.
- Nada, é que, por sorte, vossa senhoria conseguiu um quarto disponível. Eu lhe fiz uma oferta, sim de bom grado, entretando eu não tinha certeza se poderia realizá-la. Que bom, que há uma vaga. Podem adentrar o quarto. - disse, sorrindo, e entregando uma espécie de chave, feita de madeira de árvores de cerejeira.
- Estou muito grato, assim como minha seguidora. Iremos subir, e não preocupe-se, não iremos causar nenhum tipo de desarrumação em seu quarto. Peço, que diga a alguém para nos entregar comida, ou iremos morrer de fome. Estamos a viajar há muito tempo. - ele então, retirou-se, subindo as escadas, juntamente com Aiko.
Eles adentraram o quarto, finalmente podendo relaxar, após horas e mais horas expostos ao imenso poder destrutivo do calor solar.
Kenshin, em um ato de exaustão, sentou-se rápidamente no chão, escorando-se na parede, adormecendo logo em seguida.
Aiko observava-o, fazendo o mesmo, porém de uma forma mais lenta e discreta. Seus olhos rapidamente fecharam-se, sendo que, ela estava próxima de dormir. Porém, ao entrar nesse estado, seu sensei, Kenshin começa a roncar, atrapalhando-a no sono. Ela, ao acordar de sua momentânea dormência, faz um gesto obsceno com seus dedos direcionado ao sensei, acompanhado à uma cara de raiva.
Repentinamente, ouvia-se batidas na porta. Aiko perguntou quem estava ali, obtendo a responda de que a refeição havia chegado. Ela então levou seus braços até os ombros de Kenshin, balançando-o até que acordasse, assim forçando-o a abrir a porta. Kenshin abriu, lançando um feliz sorriso, que ao invés de ser em agradecimento à madame, que preocupou-se em alimentá-los, era mais direcionado à comida, que o satisfaria em breve.
- Muito obrigado mesmo. Estamos quase em estado de morte. Seria ruim se continuássemos daquela maneira. Temo que, não possamos pagar por tamanho banquete.
- Não precisa se preocupar com isso, ó poderoso viajante. Irei cobrar-te apenas o valor da hospedagem, como um ato de bondade de minha parte. - afirmou.
- Quanta gentileza. Não sei o que dizer em meio a tamanha demonstração de bondade. Espero que possamos pagar-lhe da mesma maneira algum dia. Irei ficar devendo-lhe essa, linda donzela.
- Não há de que. - disse, entregando o banquete às mãos do andarilho, fechando a porta do quarto, e descendo às escadas, dirigindo-se à recepção da hospedaria.
- Ora, ora. Que moça gentil. Nunca havíamos encontrado alguém tão gentil desde que iniciamos nossa jornada. Se ela possuísse algum tipo de habilidade, poderíamos fazê-la juntar-se á nossa causa.
- Esqueça sensei. Ela não conseguiria matar nem mesmo um simples inseto. Se você tentar envolver pessoas como ela na guerra contra os Bushido, sobrarão apenas cadáveres de nosso lado, após a batalha. Aliás, há um motivo para ela estar sendo tão gentil conosco. Provavelmente ela está armando algo.
- Por que você sempre há de desconfiar da gentileza alheia? Ora chibi-chan, me dê um bom motivo para ela proporcionar-nos tanta gentileza?
- Talvez porque ela tenha apaixonado-se por você, no momento em que avistou-lhe. Quem sabe, ela não está sendo gentil, para desviar-lhe de seu objetivo, e manter-lhe aqui, com ela? Eu sei, é um motivo mesquinho, entretanto, é uma das diversas opções, as quais podem nos ser prejudiciais.
- Mesmo que seja isso, ela não pode desviar-me da minha ambição. Vamos partir, quer ela queira ou não, assim que descansarmos o suficiente para prosseguir. Até lá, deixe suas desconfianças de lado, e durma.
- Seria bom, se eu conseguisse, com seus roncos e especulações durante o sono.
- Ah, pare com isso, eu não ronco. - disse Kenshin, embocando o delicioso banquete, preparado pela madame.
- Você se tornou deprimente, Kenshin-sensei. Irei tentar dormir, enquanto você não volta a roncar. - respondeu-lhe, acomodando-se e rápidamente adormecendo.
- Gurma, Govem Gaikuo. Gurma Enguantuo Pogue. Nós Ainga Enguengaremos Muiguos Gesafios. Esguejua preparagua. * (NT* = Falando de boca cheia).
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Epílogo do próximo capítulo:
Deixando a hospedaria, conhecendo então a vila.
Um mistério? Sombras da meia noite? Ficção ou realidade?
Próximo capítulo:Capítulo 2 - Fronteiras