As portas da entrada na nação do fogo estavam abertas e o povo estava à espera da chegada do rei, para assim comemorar a grande vitória contra os imortais. De longe podia se ver um homem montado em um cavalo negro de aparentemente uns quarenta e cinco anos. Aquele era Kadin, e quando todos o avistavam começavam a gritar “glória ao rei”, pois a garantia da vitória de todas as nações havia sido pelo mesmo. Quando estava próximo aos portões um de seus servos se aproximava do mesmo com um pouco de dificuldade devido a grande multidão em volta e logo dizia:
- Meu rei, sua mulher está prestes a dar a luz. – Era um garoto de aparentemente uns dezesseis anos, tinha os cabelos castanhos, olhos também castanhos porém bem claros e suas vestes se resumiam em uma espécie de manto que chegava até os pés de cor preta.
- Maria? – Kadin saltava do cavalo rapidamente e se aproximava do garoto pousando uma das mãos sobre o ombro do mesmo. – Me leve até ela agora, meu jovem.
Sem demora o garoto caminhava rapidamente em direção aos aposentos do rei, a distância não era muito longa, levaria apenas alguns minutos até que chegassem onde repousava a rainha. Quando Kadin chegava ao quarto junto do garoto via sua mulher deitada de costas na cama coberta por um lençol branco, estava com a pernas abertas e três mulheres de aparentemente uns trinta e cinco anos de idade trabalhavam para que ocorresse tudo certo no parto. O rei se aproximava da rainha e segurava sua mão com força, olhava em seus olhos com um pequeno sorriso no rosto e dizia:
- Maria... eu cheguei meu amor – Dizia Kadin acariciando a mão da esposa na tentativa de ajuda-la se acalmar e talvez amenizar um pouco sua dor.
- Kadin...você voltou vivo...que bom. – Dizia Maria com um pouco de dificuldade, a dor era insuportável e seu rosto estava bastante suado.
- Claro que sim, eu prometi que voltaria não prometi?
- Sim... – Soltava um grito de dor, a criança estava perto de chegar e a dor também tinha aumentado.
- Força! – Dizia uma das mulheres ali presentes no quarto que parecia ser a que realmente faria o parto da criança.
Maria estava bastante ofegante e aquilo parecia não ter um fim e cada vez que fazia força para empurrar a criança seu grito ecoava por todo o quarto. Kadin ainda segurando a mão de sua mulher apenas observava tudo bastante ansioso para a grande chegada do futuro príncipe da nação... o futuro rei. Passaram se alguns minutos e finalmente podia se escutar o choro de um bebê, o rei quando desviava seu olhar para a mulher de cabelos longos negros, pele pálida e olhos esverdeados que pareciam duas esmeraldas a mesma segurava uma criança toda suja de sangue em um manto branco, caminhava até a rainha e lhe entregava o bebê e logo dizia:
- É um menino minha rainha. – Ela sorriu.
Maria segurava o bebê e olhava para o mesmo com um doce sorriso no rosto, aquele era o ser no qual a mesma lutou por vários minutos e que também valeu muito a pena. Seu olhar chegava até o marido e logo dizia:
- Olhe Kadin, olhe nosso bebê, meu amor. – Entregava o bebê com cuidado nas mãos de seu marido.
Kadin ao segurar a criança olhava para o mesmo com o mesmo sorriso da esposa, aquele provavelmente seria o dia mais feliz de sua vida, o dia em que finalmente seu sonho havia se realizado que era ter um herdeiro. Os pensamentos do rei estavam bastante distantes, sua alegria era tanta que ficava sem palavras, nada surgia em sua mente para dizer o quanto aquele momento era importante então Maria logo quebrava o silêncio perguntando:
- Como ele vai se chamar? – Perguntava em um tom de voz doce e bastante reconfortante, Maria era uma mulher gentil e muito bonita, o povo dizia que sua beleza podia se comparar a de uma deusa.
Não demorou muito para Kadin responder, afinal ele já tinha o nome em mente antes mesmo da criança nascer, era um rei bastante apressado ou talvez empolgado. Logo dizia:
- Ele se chamara Eddrick Retzmann o futuro príncipe de nossa nação! – Ergueu a criança para o alto e um enorme sorriso surgia em seu rosto, o bebê ao escutar aquelas palavras por algum motivo parava de chorar e talvez seu silêncio significasse algo grande no futuro.
Os anos passaram como se fossem meses todo o mundo de havia mudado de maneira espetacular, as nações haviam se expandido em muitos lugares do norte e sul porém as que mais tiveram posse foram as cinco grandes. As cidades haviam mudado bastante com as novas descobertas dos inventores, armas, casas, meios de transporte dentre várias outras coisas haviam sido melhoras para o bem do povo de cada nação. Eddrick que anos atrás era apenas um bebê agora era um jovem belo e alto de dezesseis anos, tinha cabelos negros, olhos escuros como a noite e a pele morena característica típica do povo da nação do fogo. O garoto era bastante ativo, várias garotas de sua escola o admiravam. Porém nada fazia com elas, não era do tipo galanteador e sim tímido quando se tratava de mulheres. Estava em sua casa deitado em sua cama apenas fitando o teto sem ter muito que fazer, seus pais haviam saído para um reunião no templo e o deixado em casa, pois não gostava de estudar sobre os deuses. Logo saltava de sua cama e dizia:
- Poxa, aqui está um saco vou dar um mergulho no rio. – Eddrick caminhava até a porta de seu quarto abrindo-a lentamente e ao chegar ao corredor encontrava uma das servas da casa e dizia:
- Avise para meu pai que sai para nadar no rio sim?
- Tudo bem príncipe, eu falarei. – Dizia a mulher com um pequeno sorriso no rosto, aparentava ter uns vinte e cinco anos de idade e carregava um cesto com roupas em suas mãos.
Assim então Eddrick saiu correndo de seu castelo a caminho dos portões, ao chegar perto dos guardas os mesmo o reverenciavam e abriam os portões para que pudesse sair. Ao fazê-lo se deparava com várias pessoas pois o centro da cidade do fogo era de frente para seu castelo, todos diziam bom dia ao passar por Eddrick afinal ele não era qualquer um e ninguém tinha algo contra o príncipe e mesmo que tivesse seria morto na mesma hora. Caminhou por alguns minutos até sair da cidade para chegar até a floresta das ilusões, tinham esse nome por ser muito traiçoeira e todos que ali entravam tinham que marcar o caminho de volta, pois se não fizesse tal coisa ficariam presos naquele lugar juntamente com seus piores pesadelos. Mesmo que tudo não passasse de uma mera ilusão, o individuo ficaria louco a ponto de se matar. Era um lugar bem perigoso e poucos iam naquela floresta com medo de se perder, porém Eddrick nada temia, vivia dizendo que um verdadeiro homem de nada tinha medo e que qualquer obstáculo pode ser superado com esforço e força de vontade. Ao adentrar na floresta pegava um pequeno saquinho de sal que estava amarrado em sua cintura e deixava um rastro por onde passava para não se perder. Sabia o caminho para o rio, mas mesmo assim não podia vacilar… aquela floresta não diferencia o bom do ruim e qualquer um que se perder poderá morrer. Duraram apenas alguns minutos até que finalmente chegava ao rio que tinha a água cristalina. O sol quando batia sobre a água dava a leve impressão de ter diamantes no fundo do mesmo, Eddrick olhava para aquele pequeno rio e dizia:
- Finalmente vou pó... – Não terminava a frase por estar bastante surpreso com o que estava vendo naquele instante, “seria uma ilusão?” Pensou Eddrick ao ver que tinha uma bela garota nua se banhando no rio, seus cabelos eram prateados, os olhos eram tão azuis que lembravam bastante o mar e seu corpo era algo que não podia se descrever com palavras. – Você... – Dizia o jovem príncipe com o rosto bastante vermelho.
A garota estranha apenas se virava para Eddrick sem um pingo de vergonha na cara piscando os olhos várias vezes, tombava levemente sua cabeça para o lado tentando entender todo aquele jeito do garoto “Será que ele nunca viu uma mulher?” Pensou a garota que logo falou:
- Que foi? – Dizia sem esboçar sorriso algum no rosto.
- Como assim o que foi sua doida! Tenha vergonha na cara e aja como uma garota normal, cubra-se e fique com vergonha. – Dizia Eddrick bastante nervoso pelo fato de nunca ter visto uma mulher nua em seus dezesseis anos com exceção de sua mãe que tomava banho quando era jovem. Seu rosto ainda estava bastante corado. – Porque não se esconde?
- Porque você não olha pro outro lado safado. – Respondia sem ao menos pensar e não fez nada que Eddrick havia dito, pois não recebia ordem de ninguém, somente de sua mãe.
- Qual é a sua? Porque ta me tratando assim? – Respondeu o garoto de olhos fechados.
- Como quer que eu trate um estranho que está me vendo nua? – Respondia a garota saindo devagar do rio e caminhando até umas enormes pedras onde estavam suas roupas juntamente com sua toalha. Começava a se trocar bem devagar enquanto continuava a olhar para Eddrick. – Bom, que tal me dizer seu nome e de qual nação é. – Dizia enquanto vestia suas roupas íntimas.
- Me chamo Eddrick Retzmann e sou da nação do fogo. – Respondeu abrindo apenas um olho para ver se a garota tinha ao menos vestido suas vestes íntimas, ao notar que a mesma tinha feito tal coisa soltava um leve suspiro assim abrindo ambos os olhos. – Você não tem vergonha na cara não? – Perguntou em um tom nervoso.
- Eu deveria ter? – Retrucava a garota enquanto vestia seu vestido branco que chegava até seus joelhos, tinha um colar bem diferente em seu pescoço que parecia ter dentes de algum animal desconhecido.
- Claro que deveria! – Gritava para ver se a garota entendia. – Mas deixando isso de lado, como se chama? – Diminuía o tom de voz e olhava nos olhos da garota.
- Não grite comigo seu bárbaro, mas com esse jeitinho eu jamais iria imaginar que fosse da nação do fogo, para mim eles eram mais homens. -Soltava um pequeno riso ao terminar a frase. – Me chamo Gabrielle Rockenbach e sou da nação da água. – Um pequeno sorriso surgia em seu rosto enquanto colocava uma mexa de seus belos cabelos prateados na orelha.
- Ora sua... – Não terminava a frase por respeito ou talvez por não querer arrancar a cabeça da garota. – Eu sou muito homem saiba disso, e quanto ao meu jeito não tem nada a ver com minha nação.
- Ora é mesmo? Isso para mim é novidade, pelo pouco conhecimento que tenho sobre as nações você é o filho do rei da nação do fogo certo? –Foi mais uma afirmativa que uma pergunta
- Exatamente, e você filha da rainha da nação água correto? -Perguntou no mesmo tom que Gabrielle, mas afirmando do que perguntando.
- Pode ser, mas isso não importa, importa? -Caminhou até Eddrick e lhe estendeu a mão direita. – Que tal se fizéssemos as pazes? Não quero ser sua inimiga. – Dizia com um pequeno sorriso no rosto.
Olhava para mão da garota com certo receio, “será que isso é mesmo certo?” Pensou Eddrick que logo foi erguendo a mão para assim poder cumprimentar a garota. Quando estava prestes a tocar na mão de Gabrielle recebia um chute certeiro no peito que fez com que caísse naquele gramado, sem entender aquela reação da garota perguntava:
- Porque fez isso? – Estava um tanto nervoso e se levantava devagar limpando as vestes enquanto esperava uma explicação lógica da princesa.
- Vou dar um desconto porque você é um cabeça oca, bem que minha mãe dizia que todos da nação do fogo são assim. – Suspira. – Quando um individuo da nação da água toca em alguém do povo da nação do fogo ocorre uma neutralização, então você me pergunta “O que é isso?” eu não sei dizer exatamente o que é só sei o que acontece, vamos supor que isso aconteça. Fazia uma pequena pausa antes de continuar pequena explicação. – O individuo da nação da água vai evaporar e o da nação do fogo vai virar cinzas no mesmo instante, ou seja... – Estala os dedos e aponta para Eddrick. – Morte instantânea.
O Garoto colocava a mão no rosto se lembrando das aulas que teve na escola, seu professor dizia algo sobre isso, mas como era bastante avoado não dava a devida atenção na explicação do mesmo, “se ela não tivesse me chutado eu estaria morto agora...” Pensou Eddrick de olhos fechados, um pequeno sentimento de culpa surgiu em seu peito por ter ofendido Gabrielle de uma maneira tão grossa sendo que ela estava com a razão, assim sem demora dizia:
- Me desculpe, eu havia me esquecido desse detalhe, eu nunca prestei muita atenção nas aulas, então você sabe como é né? - Ria um pouco sem jeito com a situação. – Caso você não tivesse me chutado estaríamos mortos agora.
- Vou considerar isso uma desculpa por você ser burro ok? – Suspira e caminha até uma rocha que era a mais alta de todas que tinha ali perto daquele rio, conseguia escalar com facilidade para assim poder se sentar de uma forma bem feminina enquanto fitava o céu sem ao menos se importar se Eddrick iria embora ou não.
Olhava para garota como se quisesse empurrar ela daquela rocha naquele mesmo instante, porém pensou duas vezes antes de fazer tal coisa. Ficou fitando Gabrielle por alguns minutos pensando em que poderia falar, nunca tinha conversado com uma garota de nação diferente o que deixava ele frustrado. Depois de cansar de esperar que ela desse início a algum assunto dizia:
- Bom... nossos pais não se dão muito bem não é mesmo? Porque será? – Sentava na beira do rio um pouco distante de Gabrielle, porém ela havia conseguido escutar sua pergunta.
- É, não se dão mesmo e o porquê eu não sei, não me interessa. – Respondia numa frieza que não era nenhuma novidade, pois uma característica típica do povo da água era esta. – Mesmo assim foram os dois que salvaram o mundo, seu pai deve ter te contado sobre o segredo não contou? – Desviava o olhar para Eddrick com uma expressão séria no rosto.
- Sim contou, mas não devemos nos preocupar com isso agora, ainda é cedo. – Respondeu Eddrick sem tirar os olhos do rio, estava se lembrando do que seu pai contara a não muito tempo sobre seu dever no futuro.
- Acho que sim. – Saltava da rocha caindo sobre a água com delicadeza, porém não afundava. – Achou que vou embora, já está ficando tarde e esta floresta a noite é perigosa, recomendo que você também vá. – Dizia Gabrielle fitando o jovem príncipe.
- Você tem razão, está na hora mesmo eu também vou. – Após terminar a frase estranhamente o céu começava a escurecer e nuvens de trovões surgiam, uma possível chuva estava prestes a surgir. Eddrick olhava para o céu e arregalava os olhos um tanto assustado. – Droga!
- O que foi? Perguntou Gabrielle sem entender a reação do garoto.
- Você sabe que temos que marcar caminho para adentrar nessa floresta não sabe? – Perguntou com a mão direita sobre o rosto.
- Sim eu sei, mas o que tem isso?
- Eu deixei um rastro de sal...
Gabrielle colocava ambas as mãos na boca e quando olhava para o céu, pequenas gotas começavam a cair e logo essas pequenas gotas foram se tornando maiores dando inicio a uma chuva possivelmente longa. Ela correu na direção da floresta e fez um sinal com a mão direita para que Eddrick a acompanhasse e logo dizia:
- Eu deixei marcas nas árvores, podemos voltar, venha rápido que essa chuva vai piorar.
Sem demora correu na direção de Gabrielle e logo adentravam juntos na floresta. A princesa olhava para os troncos um pouco assustada, não encontrava mais as marcas que havia feito com sua adaga e se não encontrasse o caminho de volta suas vidas estariam em possível perigo. Caia de joelhos no chão com ambas as mãos no rosto e dizia:
- O caminho... Eu perdi... Vamos morrer aqui, vamos morrer aqui. – Suas lágrimas se misturavam com a chuva e as mãos em seu rosto eram para que não mostrasse sua fraqueza para um povo de outra nação, se recusava a rebaixar a tal nível.
A chuva estava muito forte e Eddrick não conseguia escutar o que Gabrielle havia dito, mas apenas por ver a expressão que a mesma fazia... o gesto, deduziu que ela tinha perdido o caminho de volta. Olhou para ela sem poder fazer muita coisa para consola-la afinal não podia sequer toca-la, passou a olhar para os lados em busca de algum abrigo e de longe conseguiu avistar uma cabana, então puxou um pouco as vestes da garota para que ela pudesse o acompanhar. Começaram a correr na direção da tal cabana o mais rápido que podiam, pois pequenas pedras de gelo começavam a cair do céu. Ao chegarem à porta do abrigo Eddrick chutava a mesma com força assim abrindo no mesmo instante, entraram sem muita demora e após fechavam a porta.
Olhavam para os lados a procura de alguém, mas não havia ninguém ali a não ser eles. A cabana tinha uma aparência bem velha, os objetos eram antigos e cheios de teias de aranha, havia uma mesa no meio e uma cama no fundo com os lençóis um tanto sujos. Gabrielle estava com a mão direita no canto do estômago e uma mancha de sangue dava destaque naquele lugar pelo fato do mesmo ser branco. Eddrick olhava para a princesa e dizia:
- Você se feriu no caminho, deixe-me te ajudar.
Antes mesmo de conseguir tocar no ferimento ela se afastava e dizia:
- Não me toque! Quer morrer aqui seu idiota? – Dizia um tanto nervosa olhando fixamente nos olhos de Eddrick.
- Eu só quero te ajudar, porque negas minha ajuda? – Chutava uma cadeira que estava a sua frente e os pedaços voavam para vários lugares da cabana.
- Você não entende que não podemos tocar um no outro? É uma regra! – Caminhava com dificuldade até a cama e ali se deitava do lado oposto de Eddrick, seu ferimento ainda sangrava e a dor permanecia. Fechava os olhos e começava a chorar baixinho.
Eddrick caminhava para perto da janela e passava a olhar para fora, entretanto nada via, devido a grande escuridão que cobria aquela densa floresta e aquela chuva parecia que nunca iria acabar, desviou o olhar para Gabrille na cama e suspirou, pois nada poderia fazer para ajuda-la e se as coisas continuassem daquele jeito o futuro de ambos não seria nada agradável. Caminhou para perto da garota e sentou-se ao seu lado e disse:
- Aguente firme, daremos um jeito nesse ferimento ao amanhecer – Após terminar a frase fechou os olhos e ficou em silêncio.
Gabrielle não respondeu apenas ficou quieta, virou levemente a cabeça para o lado e bufou, logo fechou os olhos assim adormecendo.
- Meu rei, sua mulher está prestes a dar a luz. – Era um garoto de aparentemente uns dezesseis anos, tinha os cabelos castanhos, olhos também castanhos porém bem claros e suas vestes se resumiam em uma espécie de manto que chegava até os pés de cor preta.
- Maria? – Kadin saltava do cavalo rapidamente e se aproximava do garoto pousando uma das mãos sobre o ombro do mesmo. – Me leve até ela agora, meu jovem.
Sem demora o garoto caminhava rapidamente em direção aos aposentos do rei, a distância não era muito longa, levaria apenas alguns minutos até que chegassem onde repousava a rainha. Quando Kadin chegava ao quarto junto do garoto via sua mulher deitada de costas na cama coberta por um lençol branco, estava com a pernas abertas e três mulheres de aparentemente uns trinta e cinco anos de idade trabalhavam para que ocorresse tudo certo no parto. O rei se aproximava da rainha e segurava sua mão com força, olhava em seus olhos com um pequeno sorriso no rosto e dizia:
- Maria... eu cheguei meu amor – Dizia Kadin acariciando a mão da esposa na tentativa de ajuda-la se acalmar e talvez amenizar um pouco sua dor.
- Kadin...você voltou vivo...que bom. – Dizia Maria com um pouco de dificuldade, a dor era insuportável e seu rosto estava bastante suado.
- Claro que sim, eu prometi que voltaria não prometi?
- Sim... – Soltava um grito de dor, a criança estava perto de chegar e a dor também tinha aumentado.
- Força! – Dizia uma das mulheres ali presentes no quarto que parecia ser a que realmente faria o parto da criança.
Maria estava bastante ofegante e aquilo parecia não ter um fim e cada vez que fazia força para empurrar a criança seu grito ecoava por todo o quarto. Kadin ainda segurando a mão de sua mulher apenas observava tudo bastante ansioso para a grande chegada do futuro príncipe da nação... o futuro rei. Passaram se alguns minutos e finalmente podia se escutar o choro de um bebê, o rei quando desviava seu olhar para a mulher de cabelos longos negros, pele pálida e olhos esverdeados que pareciam duas esmeraldas a mesma segurava uma criança toda suja de sangue em um manto branco, caminhava até a rainha e lhe entregava o bebê e logo dizia:
- É um menino minha rainha. – Ela sorriu.
Maria segurava o bebê e olhava para o mesmo com um doce sorriso no rosto, aquele era o ser no qual a mesma lutou por vários minutos e que também valeu muito a pena. Seu olhar chegava até o marido e logo dizia:
- Olhe Kadin, olhe nosso bebê, meu amor. – Entregava o bebê com cuidado nas mãos de seu marido.
Kadin ao segurar a criança olhava para o mesmo com o mesmo sorriso da esposa, aquele provavelmente seria o dia mais feliz de sua vida, o dia em que finalmente seu sonho havia se realizado que era ter um herdeiro. Os pensamentos do rei estavam bastante distantes, sua alegria era tanta que ficava sem palavras, nada surgia em sua mente para dizer o quanto aquele momento era importante então Maria logo quebrava o silêncio perguntando:
- Como ele vai se chamar? – Perguntava em um tom de voz doce e bastante reconfortante, Maria era uma mulher gentil e muito bonita, o povo dizia que sua beleza podia se comparar a de uma deusa.
Não demorou muito para Kadin responder, afinal ele já tinha o nome em mente antes mesmo da criança nascer, era um rei bastante apressado ou talvez empolgado. Logo dizia:
- Ele se chamara Eddrick Retzmann o futuro príncipe de nossa nação! – Ergueu a criança para o alto e um enorme sorriso surgia em seu rosto, o bebê ao escutar aquelas palavras por algum motivo parava de chorar e talvez seu silêncio significasse algo grande no futuro.
Os anos passaram como se fossem meses todo o mundo de havia mudado de maneira espetacular, as nações haviam se expandido em muitos lugares do norte e sul porém as que mais tiveram posse foram as cinco grandes. As cidades haviam mudado bastante com as novas descobertas dos inventores, armas, casas, meios de transporte dentre várias outras coisas haviam sido melhoras para o bem do povo de cada nação. Eddrick que anos atrás era apenas um bebê agora era um jovem belo e alto de dezesseis anos, tinha cabelos negros, olhos escuros como a noite e a pele morena característica típica do povo da nação do fogo. O garoto era bastante ativo, várias garotas de sua escola o admiravam. Porém nada fazia com elas, não era do tipo galanteador e sim tímido quando se tratava de mulheres. Estava em sua casa deitado em sua cama apenas fitando o teto sem ter muito que fazer, seus pais haviam saído para um reunião no templo e o deixado em casa, pois não gostava de estudar sobre os deuses. Logo saltava de sua cama e dizia:
- Poxa, aqui está um saco vou dar um mergulho no rio. – Eddrick caminhava até a porta de seu quarto abrindo-a lentamente e ao chegar ao corredor encontrava uma das servas da casa e dizia:
- Avise para meu pai que sai para nadar no rio sim?
- Tudo bem príncipe, eu falarei. – Dizia a mulher com um pequeno sorriso no rosto, aparentava ter uns vinte e cinco anos de idade e carregava um cesto com roupas em suas mãos.
Assim então Eddrick saiu correndo de seu castelo a caminho dos portões, ao chegar perto dos guardas os mesmo o reverenciavam e abriam os portões para que pudesse sair. Ao fazê-lo se deparava com várias pessoas pois o centro da cidade do fogo era de frente para seu castelo, todos diziam bom dia ao passar por Eddrick afinal ele não era qualquer um e ninguém tinha algo contra o príncipe e mesmo que tivesse seria morto na mesma hora. Caminhou por alguns minutos até sair da cidade para chegar até a floresta das ilusões, tinham esse nome por ser muito traiçoeira e todos que ali entravam tinham que marcar o caminho de volta, pois se não fizesse tal coisa ficariam presos naquele lugar juntamente com seus piores pesadelos. Mesmo que tudo não passasse de uma mera ilusão, o individuo ficaria louco a ponto de se matar. Era um lugar bem perigoso e poucos iam naquela floresta com medo de se perder, porém Eddrick nada temia, vivia dizendo que um verdadeiro homem de nada tinha medo e que qualquer obstáculo pode ser superado com esforço e força de vontade. Ao adentrar na floresta pegava um pequeno saquinho de sal que estava amarrado em sua cintura e deixava um rastro por onde passava para não se perder. Sabia o caminho para o rio, mas mesmo assim não podia vacilar… aquela floresta não diferencia o bom do ruim e qualquer um que se perder poderá morrer. Duraram apenas alguns minutos até que finalmente chegava ao rio que tinha a água cristalina. O sol quando batia sobre a água dava a leve impressão de ter diamantes no fundo do mesmo, Eddrick olhava para aquele pequeno rio e dizia:
- Finalmente vou pó... – Não terminava a frase por estar bastante surpreso com o que estava vendo naquele instante, “seria uma ilusão?” Pensou Eddrick ao ver que tinha uma bela garota nua se banhando no rio, seus cabelos eram prateados, os olhos eram tão azuis que lembravam bastante o mar e seu corpo era algo que não podia se descrever com palavras. – Você... – Dizia o jovem príncipe com o rosto bastante vermelho.
A garota estranha apenas se virava para Eddrick sem um pingo de vergonha na cara piscando os olhos várias vezes, tombava levemente sua cabeça para o lado tentando entender todo aquele jeito do garoto “Será que ele nunca viu uma mulher?” Pensou a garota que logo falou:
- Que foi? – Dizia sem esboçar sorriso algum no rosto.
- Como assim o que foi sua doida! Tenha vergonha na cara e aja como uma garota normal, cubra-se e fique com vergonha. – Dizia Eddrick bastante nervoso pelo fato de nunca ter visto uma mulher nua em seus dezesseis anos com exceção de sua mãe que tomava banho quando era jovem. Seu rosto ainda estava bastante corado. – Porque não se esconde?
- Porque você não olha pro outro lado safado. – Respondia sem ao menos pensar e não fez nada que Eddrick havia dito, pois não recebia ordem de ninguém, somente de sua mãe.
- Qual é a sua? Porque ta me tratando assim? – Respondeu o garoto de olhos fechados.
- Como quer que eu trate um estranho que está me vendo nua? – Respondia a garota saindo devagar do rio e caminhando até umas enormes pedras onde estavam suas roupas juntamente com sua toalha. Começava a se trocar bem devagar enquanto continuava a olhar para Eddrick. – Bom, que tal me dizer seu nome e de qual nação é. – Dizia enquanto vestia suas roupas íntimas.
- Me chamo Eddrick Retzmann e sou da nação do fogo. – Respondeu abrindo apenas um olho para ver se a garota tinha ao menos vestido suas vestes íntimas, ao notar que a mesma tinha feito tal coisa soltava um leve suspiro assim abrindo ambos os olhos. – Você não tem vergonha na cara não? – Perguntou em um tom nervoso.
- Eu deveria ter? – Retrucava a garota enquanto vestia seu vestido branco que chegava até seus joelhos, tinha um colar bem diferente em seu pescoço que parecia ter dentes de algum animal desconhecido.
- Claro que deveria! – Gritava para ver se a garota entendia. – Mas deixando isso de lado, como se chama? – Diminuía o tom de voz e olhava nos olhos da garota.
- Não grite comigo seu bárbaro, mas com esse jeitinho eu jamais iria imaginar que fosse da nação do fogo, para mim eles eram mais homens. -Soltava um pequeno riso ao terminar a frase. – Me chamo Gabrielle Rockenbach e sou da nação da água. – Um pequeno sorriso surgia em seu rosto enquanto colocava uma mexa de seus belos cabelos prateados na orelha.
- Ora sua... – Não terminava a frase por respeito ou talvez por não querer arrancar a cabeça da garota. – Eu sou muito homem saiba disso, e quanto ao meu jeito não tem nada a ver com minha nação.
- Ora é mesmo? Isso para mim é novidade, pelo pouco conhecimento que tenho sobre as nações você é o filho do rei da nação do fogo certo? –Foi mais uma afirmativa que uma pergunta
- Exatamente, e você filha da rainha da nação água correto? -Perguntou no mesmo tom que Gabrielle, mas afirmando do que perguntando.
- Pode ser, mas isso não importa, importa? -Caminhou até Eddrick e lhe estendeu a mão direita. – Que tal se fizéssemos as pazes? Não quero ser sua inimiga. – Dizia com um pequeno sorriso no rosto.
Olhava para mão da garota com certo receio, “será que isso é mesmo certo?” Pensou Eddrick que logo foi erguendo a mão para assim poder cumprimentar a garota. Quando estava prestes a tocar na mão de Gabrielle recebia um chute certeiro no peito que fez com que caísse naquele gramado, sem entender aquela reação da garota perguntava:
- Porque fez isso? – Estava um tanto nervoso e se levantava devagar limpando as vestes enquanto esperava uma explicação lógica da princesa.
- Vou dar um desconto porque você é um cabeça oca, bem que minha mãe dizia que todos da nação do fogo são assim. – Suspira. – Quando um individuo da nação da água toca em alguém do povo da nação do fogo ocorre uma neutralização, então você me pergunta “O que é isso?” eu não sei dizer exatamente o que é só sei o que acontece, vamos supor que isso aconteça. Fazia uma pequena pausa antes de continuar pequena explicação. – O individuo da nação da água vai evaporar e o da nação do fogo vai virar cinzas no mesmo instante, ou seja... – Estala os dedos e aponta para Eddrick. – Morte instantânea.
O Garoto colocava a mão no rosto se lembrando das aulas que teve na escola, seu professor dizia algo sobre isso, mas como era bastante avoado não dava a devida atenção na explicação do mesmo, “se ela não tivesse me chutado eu estaria morto agora...” Pensou Eddrick de olhos fechados, um pequeno sentimento de culpa surgiu em seu peito por ter ofendido Gabrielle de uma maneira tão grossa sendo que ela estava com a razão, assim sem demora dizia:
- Me desculpe, eu havia me esquecido desse detalhe, eu nunca prestei muita atenção nas aulas, então você sabe como é né? - Ria um pouco sem jeito com a situação. – Caso você não tivesse me chutado estaríamos mortos agora.
- Vou considerar isso uma desculpa por você ser burro ok? – Suspira e caminha até uma rocha que era a mais alta de todas que tinha ali perto daquele rio, conseguia escalar com facilidade para assim poder se sentar de uma forma bem feminina enquanto fitava o céu sem ao menos se importar se Eddrick iria embora ou não.
Olhava para garota como se quisesse empurrar ela daquela rocha naquele mesmo instante, porém pensou duas vezes antes de fazer tal coisa. Ficou fitando Gabrielle por alguns minutos pensando em que poderia falar, nunca tinha conversado com uma garota de nação diferente o que deixava ele frustrado. Depois de cansar de esperar que ela desse início a algum assunto dizia:
- Bom... nossos pais não se dão muito bem não é mesmo? Porque será? – Sentava na beira do rio um pouco distante de Gabrielle, porém ela havia conseguido escutar sua pergunta.
- É, não se dão mesmo e o porquê eu não sei, não me interessa. – Respondia numa frieza que não era nenhuma novidade, pois uma característica típica do povo da água era esta. – Mesmo assim foram os dois que salvaram o mundo, seu pai deve ter te contado sobre o segredo não contou? – Desviava o olhar para Eddrick com uma expressão séria no rosto.
- Sim contou, mas não devemos nos preocupar com isso agora, ainda é cedo. – Respondeu Eddrick sem tirar os olhos do rio, estava se lembrando do que seu pai contara a não muito tempo sobre seu dever no futuro.
- Acho que sim. – Saltava da rocha caindo sobre a água com delicadeza, porém não afundava. – Achou que vou embora, já está ficando tarde e esta floresta a noite é perigosa, recomendo que você também vá. – Dizia Gabrielle fitando o jovem príncipe.
- Você tem razão, está na hora mesmo eu também vou. – Após terminar a frase estranhamente o céu começava a escurecer e nuvens de trovões surgiam, uma possível chuva estava prestes a surgir. Eddrick olhava para o céu e arregalava os olhos um tanto assustado. – Droga!
- O que foi? Perguntou Gabrielle sem entender a reação do garoto.
- Você sabe que temos que marcar caminho para adentrar nessa floresta não sabe? – Perguntou com a mão direita sobre o rosto.
- Sim eu sei, mas o que tem isso?
- Eu deixei um rastro de sal...
Gabrielle colocava ambas as mãos na boca e quando olhava para o céu, pequenas gotas começavam a cair e logo essas pequenas gotas foram se tornando maiores dando inicio a uma chuva possivelmente longa. Ela correu na direção da floresta e fez um sinal com a mão direita para que Eddrick a acompanhasse e logo dizia:
- Eu deixei marcas nas árvores, podemos voltar, venha rápido que essa chuva vai piorar.
Sem demora correu na direção de Gabrielle e logo adentravam juntos na floresta. A princesa olhava para os troncos um pouco assustada, não encontrava mais as marcas que havia feito com sua adaga e se não encontrasse o caminho de volta suas vidas estariam em possível perigo. Caia de joelhos no chão com ambas as mãos no rosto e dizia:
- O caminho... Eu perdi... Vamos morrer aqui, vamos morrer aqui. – Suas lágrimas se misturavam com a chuva e as mãos em seu rosto eram para que não mostrasse sua fraqueza para um povo de outra nação, se recusava a rebaixar a tal nível.
A chuva estava muito forte e Eddrick não conseguia escutar o que Gabrielle havia dito, mas apenas por ver a expressão que a mesma fazia... o gesto, deduziu que ela tinha perdido o caminho de volta. Olhou para ela sem poder fazer muita coisa para consola-la afinal não podia sequer toca-la, passou a olhar para os lados em busca de algum abrigo e de longe conseguiu avistar uma cabana, então puxou um pouco as vestes da garota para que ela pudesse o acompanhar. Começaram a correr na direção da tal cabana o mais rápido que podiam, pois pequenas pedras de gelo começavam a cair do céu. Ao chegarem à porta do abrigo Eddrick chutava a mesma com força assim abrindo no mesmo instante, entraram sem muita demora e após fechavam a porta.
Olhavam para os lados a procura de alguém, mas não havia ninguém ali a não ser eles. A cabana tinha uma aparência bem velha, os objetos eram antigos e cheios de teias de aranha, havia uma mesa no meio e uma cama no fundo com os lençóis um tanto sujos. Gabrielle estava com a mão direita no canto do estômago e uma mancha de sangue dava destaque naquele lugar pelo fato do mesmo ser branco. Eddrick olhava para a princesa e dizia:
- Você se feriu no caminho, deixe-me te ajudar.
Antes mesmo de conseguir tocar no ferimento ela se afastava e dizia:
- Não me toque! Quer morrer aqui seu idiota? – Dizia um tanto nervosa olhando fixamente nos olhos de Eddrick.
- Eu só quero te ajudar, porque negas minha ajuda? – Chutava uma cadeira que estava a sua frente e os pedaços voavam para vários lugares da cabana.
- Você não entende que não podemos tocar um no outro? É uma regra! – Caminhava com dificuldade até a cama e ali se deitava do lado oposto de Eddrick, seu ferimento ainda sangrava e a dor permanecia. Fechava os olhos e começava a chorar baixinho.
Eddrick caminhava para perto da janela e passava a olhar para fora, entretanto nada via, devido a grande escuridão que cobria aquela densa floresta e aquela chuva parecia que nunca iria acabar, desviou o olhar para Gabrille na cama e suspirou, pois nada poderia fazer para ajuda-la e se as coisas continuassem daquele jeito o futuro de ambos não seria nada agradável. Caminhou para perto da garota e sentou-se ao seu lado e disse:
- Aguente firme, daremos um jeito nesse ferimento ao amanhecer – Após terminar a frase fechou os olhos e ficou em silêncio.
Gabrielle não respondeu apenas ficou quieta, virou levemente a cabeça para o lado e bufou, logo fechou os olhos assim adormecendo.